domingo, 9 de novembro de 2008

O desemprego e o capitalismo

O desemprego é uma das piores chagas econômicas do modo de produção capitalista. Atualmente, não há uma região, uma cidade ou um país do mundo que não tenha o desemprego como uma de suas piores preocupações. Os meios de comunicação, correia de transmissão das posições da classe dominante, veiculam reportagens e pesquisas de “opinião pública” encomendadas que apontam para a “segurança pública” como as maiores preocupações da “população”. Mas basta visitarmos qualquer grande cidade brasileira ou mundial, passando pelas periferias e os bolsões de miséria que fazem parte do cenário, para vermos que o desemprego é a maior preocupação social, além de ser uma realidade tão palpável que fica cada vez mais difícil para a mídia burguesa escondê-la.Também não poderia ser de outra forma, o capitalismo em todos os seus séculos de existência nunca foi capaz de liquidar com este problema que aflige a milhões de homens. Muito pelo contrário, o chamado “exército industrial de reserva” faz parte integrante e indissolúvel do modo de produção capitalista. Podemos até dizer que sem esse “exército reserva” o capitalismo não funcionaria. Frente a um pedido de reajuste salarial ou de qualquer outra reivindicação, quem nunca ouviu a famosa frase que está na ponta da língua de todo o burguês: “se não quer, tem quem queira”.
Na realidade, o desemprego cumpre o papel de esfacelar a união dos trabalhadores na medida em que os proletários disputam as vagas entre si, quando na realidade a luta não deve ser travada entre os trabalhadores, mas contra o patrão – que é o detentor dos meios de produção (terra, indústria) e, portanto, quem contrata ou não a mão-de-obra. A manutenção pelas forças imperialistas do capitalismo em decomposição aprofunda as contradições do desemprego e mantém massas de milhões de trabalhadores na miséria extrema.
Cada novo progresso técnico e científico, além de inacessível para a esmagadora maioria da população mundial, trata de mecanizar a produção e, com isso, ao invés de gerar conforto para a humanidade, lança milhares de novos trabalhadores na incerteza do desemprego. Isso acontece porque, longe de permitir a redução na jornada de trabalho, a burguesia utiliza a mecanização como desculpa para demitir trabalhadores, e explorar cada vez mais os que conseguem manter o emprego. Com menos pessoas trabalhando, o patrão pode aumentar sua margem de lucro – e com isso, sua riqueza. Em função da vigência do direito burguês da propriedade privada, os trabalhadores sempre ficarão à margem dos avanços científicos e a mercê do desemprego. Enquanto este sistema perdurar todas as mazelas econômicas tipicamente capitalistas – como o desemprego – se aprofundarão rumo à barbárie, que já se observa em regiões de muitos países.
O subemprego, os concursos públicos e os estágios para a juventudeSem alternativas, muitos trabalhadores se lançam ao mercado informal, aos “bicos”, ao tráfico de droga nas favelas e, por fim, ao assalto à mão armada.
Quando se tornam trabalhadores do mercado informal, acabam perseguidos pela polícia e pelo Estado burguês. Este Estado, que esmaga com mãos de ferro os camelôs miseráveis, deixa as multinacionais e os bancos livres de impostos com as generosas isenções fiscais.Da desgraça e incerteza cotidiana de milhões surge a “indústria” dos concursos públicos e toda a parafernália dos aparatos que isso envolve. Surgem os “cursinhos” preparatórios, as empresas que “prestam serviço” de seleção com a aplicação da prova e assim sucessivamente. Hoje as vagas públicas são tão disputadas que superam, em dificuldade, os mais concorridos vestibulares. O resultado é que muitos desses concursos são fraudados ou controlados por interesses políticos e econômicos, prevalecendo as práticas do nepotismo. As denúncias trazidas a público pelos jornais da mídia burguesa não deixam mentir, embora não passem de uma pequena ponta do iceberg.Cobrados pelas famílias, sem a chance de poder estudar e se formar, muitos jovens trabalhadores são obrigados a conciliar a jornada de trabalho com o calendário escolar. Em sua maioria terminam reféns dos estágios mal remunerados, sem nenhum direito trabalhista assegurado, sem férias, sem 13º salário, sem nada.
E não há remédio! Quanto mais formação se tem, mais formação o mercado exige; quanto mais experiência e tempo de trabalho se têm, mais se exige para a contratação. Já não bastam todos os dias da semana, eles querem os sábados, os domingos e os feriados, e o pior, com a Reforma Trabalhista eles querem retirar o direito a férias e a licença maternidade. Enquanto os empregados trabalham num ritmo alucinante e infindável, os desempregados aumentam sem parar. A base de todo “progresso” no capitalismo se assenta sobre a miséria alheia, não havendo solução a não ser destruindo o sistema capitalista através da luta direta de todos os trabalhadores e desempregados.

A única solução para o desemprego é a Revolução SocialistaA mídia burguesa veicula reportagens afirmando que o desemprego está diminuindo e que as “classes menos favorecidas” estão aumentando o poder aquisitivo. Nada mais mentiroso do que isso. Trata-se, precisamente, de uma manobra da mídia para anestesiar a classe média e a pequena-burguesia do contato mais direto com as graves contradições sociais. A Rússia, que após a restauração capitalista, voltou a conhecer uma das piores mazelas do capitalismo – o desemprego –, acenou com saudade aos regimes stalinistas como comprovam inúmeras pesquisas. Não se trata de construir um regime burocrático e repressor como foi a experiência com o stalinismo da URSS e do restante do chamado “bloco soviético”. Mas exatamente o contrário.
Trata-se de varrer através da luta direta dos trabalhadores e desempregados o capitalismo e seu Estado, que são os responsáveis diretos pelo desemprego, bem como toda e qualquer forma de burocracia (seja a estatal, seja a sindical ou qualquer outra).Nesse sentido, a Conlutas – que inclusive surgiu, dentre outras propostas, com o propósito de organizar a luta dos desempregados – está fazendo o caminho inverso. Aproxima-se da Intersindical e, indiretamente, da CUT, assumindo suas bandeiras governistas e o seu calendário de luta. E tudo isso com a desculpa esfarrapada da “união da classe trabalhadora” no abstrato, mesmo que essa união se dê indiretamente com um setor governista e burocrático nada abstrato.
A verdadeira luta contra as desgraças da burocratização sindical passa pelo combate a fusão rebaixada e oportunista com a Intersindical, e pela organização dos desempregados nos sindicatos da Conlutas sob bandeiras políticas socialistas e revolucionárias. O sindicalismo praticado pela direção majoritária da Conlutas é de um verdadeiro economicismo rebaixadíssimo, que sequer chega a falar das questões socialistas. Num mundo dominado pelo capital imperialista, o número de desempregados e subempregados – contando pessoas com renda inferior a 50 dólares por mês e trabalhadores que vivem na informalidade –, pode passar da casa de 1 bilhão de pessoas. Enquanto que os trabalhadores são reféns de uma jornada de trabalho que lhes arrasa os músculos, os nervos e a mente, os desempregados vivem à margem da sociedade, esperando a caridade de um “bom burguês”.
A economia capitalista é aquela baseada no desperdício e na anarquia da produção, isto é, na queima da superprodução quando esta se desvaloriza e na manutenção do desemprego. A forma científica de racionalizar a produção é planificando a economia e absorvendo a mão-de-obra dos desempregados para todos os ramos econômicos. Da mesma forma que isso acarretaria a diminuição drástica da jornada de trabalho, conseguiria liquidar com o desemprego. Mas isso é impossível enquanto a propriedade dos meios de produção permanecer nas mãos da burguesia.
Somente a organização dos trabalhadores por local de trabalho, apoiado pelos desempregados e pela juventude, bem como uma luta sem tréguas pela derrubada do capitalismo, apontando para o controle operário da produção e para a Revolução Socialista, podem concretizar a mudança revolucionária da sociedade. Para dirigir todo este processo é vital a construção de um autêntico partido revolucionário marxista que tenha em seu interior trabalhadores e desempregados, visto que a classe operária está órfã de uma organização deste tipo. A Luta Revolucionária dos Trabalhadores aposta todas as suas fichas na construção dessa alternativa e trabalha duro para isso.

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