domingo, 9 de novembro de 2008

Especulação provoca revolta dos famintos

Os preços de certos alimentos, que já vinham aumentando, de um ano para cá duplicaram ou triplicaram. Principalmente aqueles de alguns produtos básicos de consumo da população mundial, como arroz, trigo e milho. Como conseqüência, nos últimos meses o mundo presenciou a revolta dos famintos em dezenas de países: Haiti, México, Egito, Indonésia, Paquistão, Senegal, Guiné, Mauritânia, Marrocos, Uzbequistão, entre outros tantos. Esses protestos e insurreições são apenas o começo, porque os aumentos de preços e as suas causas devem persistir. Alguns países, grandes produtores de grãos – como Argentina, Índia, Vietnã e Malásia –, começam a proibir a sua exportação. Os últimos são os maiores produtores de arroz, dieta principal de metade da população mundial.Os porta-vozes do capital procuram desviar a opinião pública das verdadeiras causas desses aumentos, atribuindo culpa ao programa dos biocombustíveis, à seca na Austrália, ao aumento do consumo na China e na Índia, entre outras explicações. Isso tudo tem uma influência muito parcial.
A principal causa é a especulação com as chamadas “commodities”, mercadorias de produção em larga escala negociadas na Bolsa de Chicago, no chamado “mercado futuro”. Esse mercado consiste na compra, por investidores, de contratos de exportação desses produtos, os quais não necessariamente já tenham sido produzidos.Nos últimos tempos, o grande capital especulativo tem migrado para o “mercado futuro". Isso inflaciona a procura. Por exemplo: as próximas duas safras de um determinado tipo de trigo já foram compradas antecipadamente. Os especuladores garantem para si preços antecipados, mas provocam o seu aumento no mercado, de tal maneira que podem vendê-los, quando da efetiva entrega, pelos novos preços. Com essa manobra apenas nas Bolsas e sem sair do escritório, auferem grandes lucros e inflacionam o preço desses produtos para os consumidores.Esse novo fenômeno especulativo é uma conseqüência da atual crise do capitalismo.
Os capitais abandonam o mercado imobiliário e demais mercados especulativos, e procuram refúgio em produtos de consumo indispensável, e portanto, seguros. É mais um artifício usado pelos grandes capitalistas para recompor os seus lucros abalados pela crise e transferir os prejuízos sofridos para a população mundial. As conseqüências dessa “jogada” do capital são catastróficas, principalmente para as populações mais pobres, que a pagam com a fome de centenas de milhões de pessoas.No Brasil, Lula tenta iludir o povo de que a crise não chegará ao país devido aos “fundamentos sólidos da economia”. Na verdade, a economia brasileira se beneficiou momentaneamente do crescimento econômico internacional dos últimos anos. Mas já vemos o preço do feijão aumentar despropositadamente.Inevitavelmente, com o recrudescimento da crise mundial, o país pagará caro o preço da sua dependência, embora não exista falta de alimentos. Nos últimos dez anos o Brasil mais do que duplicou a sua produção de grãos (112%) e aumentou em 94% a sua produtividade agrícola. Os preços aumentam, e continuarão aumentando, em função da nossa dependência do capital internacional. O governo não controla a política agrícola, que está em mãos dos monopólios internacionais. Perto de vinte desses conglomerados dominam a produção e o comércio mundial de alimentos, e a propriedade de grandes extensões das melhores terras.
A produção de sementes e fertilizantes está também sob seu controle. No nosso país, a Petrobrás controlava a produção de fertilizantes (Fosfertil). Com a privatização, hoje essa produção é controlada pela Bunge. A produção de sementes também está monopolizada. Por exemplo: quatro grandes monopólios dominam a produção de sementes de milho. A crise e as nossas tarefas O pior está por vir. A recessão econômica internacional está apenas começando. O capital financeiro tentará transferir os seus custos para os trabalhadores. Virão novos planos de arrocho e aumentos de preços. A burguesia não se guia por considerações sociais. Acima de tudo estão os seus lucros, que não podem cair. A fome e a miséria lhes são indiferentes.
Na verdade, somente se importam com a questão social quando pressentem a possibilidade de revolta dos miseráveis. Neste momento, a FAO (organismo da ONU para a alimentação), propõe aumentar a “ajuda humanitária”. Mas esse paliativo não resolverá o problema da fome, porque a burguesia não tem condições de resolvê-la.A verdadeira solução está em contradição com a lógica do capitalismo. Não existe forma de o capital solucionar a sua crise – a tendência à queda da taxa de lucro – sem transferi-la para os povos. Nesse sentido, a especulação com o preço dos alimentos é para ele uma necessidade imprescindível. A história tem mostrado que, nas grandes crises e nas guerras, é quando o capital mais especula e mais lucra.Por outro lado, o aumento da miséria dos trabalhadores não é uma característica apenas dos períodos de crise econômica. É uma tendência inevitável também dos períodos normais. A “lei da miséria crescente”, como uma característica permanente do sistema capitalista, foi estabelecida por Marx no século XIX e se confirma plenamente. Nada atesta melhor a falência do capitalismo do que o aumento da miséria absoluta – não só relativa – representada pela fome.Os trabalhadores devem preparar-se para um período difícil, de crise econômica, de inflação e de miséria. Isso será uma catástrofe para os países mais pobres, mas também atingirá os países imperialistas. Muitas lutas virão. É preciso criar as condições para a revolução social do proletariado: organizar os trabalhadores, criar o partido revolucionário. Não pode haver solução para a fome enquanto existir o capitalismo. A nossa tarefa é derrubá-lo. Para isso, é preciso:
- Criar comitês de luta contra o aumento dos preços e pelo seu controle pelos trabalhadores e suas organizações;- Pela escala móvel de horas de trabalho! Diminuir a jornada de trabalho sem diminuição de salários, de maneira a que todos trabalhem;
- Pela escala móvel de salários! Conquistar reajuste de salários periódicos, sempre que a inflação atingir determinado índice a ser estabelecido pelos trabalhadores;- Expropriar o grande latifúndio, produtivo ou improdutivo;
- Expropriar a grande indústria, incluindo as agroindústrias e as empresas de exportação e importação;
- Fazer a revolução socialista instituindo o poder dos trabalhadores.

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