O resultado da votação do reajuste salarial deste ano, apesar da vitória da proposta patronal, foi diferente. A proposta da empresa venceu com 72% dos votos, contra 28% do NÃO, defendido pela Oposição. Porém, uma análise superficial pode achar que o mero resultado dos votos foi uma derrota completa. Mas não foi só isso. Pela primeira vez os trabalhadores apresentaram uma contraproposta à migalha oferecida pelo patrão. A campanha pelo NÃO foi feita contra muitas adversidades, numa verdadeira luta contra a corrente. O resultado das urnas demonstrou um trabalho de chantagem e demagogia feito minuciosamente pela direção da empresa.
Os votos no NÃO, apesar da derrota, foram conscientes, precisos. Demonstraram que existe um limite para a chantagem da patronal e que a disposição dos trabalhadores é outra. O que falta aos trabalhadores é uma organização maior, mais sólida, mais democrática, que consiga ser a expressão dos seus interesses de classe. É precisamente este o papel da Oposição Chamando à Luta.
A chantagem da empresa e o voto de cabresto
Frente a organização dos trabalhadores de base a empresa desencadeou uma ofensiva ideológica que visava a aprovação de sua proposta. Realizou uma campanha de chantagem coletiva, que obrigou os trabalhadores mais desavisados a votarem pelo SIM. Diziam que seria praticamente impossível conseguir outro reajuste e que se aprovassem este reajuste miserável e abaixo da inflação teriam garantias de que seria pago em janeiro/09. Entretanto, todo o caráter anti-democrático e déspota do capital foi demonstrado na velha prática do Brasil coronelista: o voto de cabresto. Este método consiste em liberar os funcionários que votam pelo SIM e deixar descer para votar os trabalhadores mais desavisados, tutorados pelos supervisores. E estes senhores chamam isso de “democracia”. Sem contar as retaliações pelo medo das demissões em massa.
Sem este método coronelista de chantagem e suborno generalizados, o capitalismo não tem como se manter. Esta é a essência da vitória da proposta patronal. Contudo, apesar da demagogia, não há nenhuma garantia de que o reajuste será pago no início de 2009, e o pior, o reajuste não será pago aos trabalhadores com menos de 6 meses, que constituem um número expressivo. As migalhas do novo reajuste farão sentir seus efeitos frente aos novos preços inflacionados.
O reajuste nas empresas de Call Centers
A Atento apresentou uma proposta de reajuste inferior a todas as outras categorias. Enquanto seu lucro é recorde e o seu capital se expande, nossos salários são reajustados abaixo da inflação. Esta “prosperidade” da empresa é feita às nossas custas, com exploração de salários baixíssimos e um embrutecimento dos teleoperadores. O reajuste proposto era uma ilusão, que não repunha sequer as perdas do período e a própria inflação, que chegou a novos índices com a crise capitalista mundial. O agravante é que a empresa não cumpre a data base do acordo coletivo e durante os 6 meses finais de 2008 não pagou o reajuste acordado anteriormente.
Aproveitando-se da pouca tradição de luta e da alta rotatividade, as empresas de call centers jogam na nossa desorganização e inconsciência. É preciso unificar a categoria com uma data base em comum para fortalecer a nossa organização e obrigar a patronal a reajustar nosso salário periodicamente. É preciso lutar para que os acordos coletivos assegurem o aumento automático dos salários simultaneamente à elevação dos preços dos artigos de consumo. Também é preciso derrotar a consciência imediatista e espontânea que impera na categoria: “é melhor isso do que nada”. Com luta, consciência e organização é possível conquistar muito mais do que 7% e não se ajoelhar às migalhas que são atiradas da mesa do patrão.
A direção do Sinttel, parceira do patrão
Contudo, todos estes ataques não seriam possíveis se a empresa não contasse com um grande parceiro: a direção do Sinttel. A direção cutista do Sinttel não foi capaz de apresentar uma contraproposta à empresa, como já é de seu feitio. Esta apatia não é casual. Frente a contraproposta apresentada pela Oposição, a direção do Sinttel teve que assumir a campanha pelo NÃO. Mas esta campanha demagógica era apenas de fachada. A direção do Sindicato, além de não apresentar nenhuma contraproposta à empresa, quase agrediu a Oposição por ter panfleteado um material de campanha pelo NÃO dois dias antes da votação. Esta prática negligente de panfletear um dia antes das atividades também é um costume corriqueiro. E os senhores dirigentes dizem que é a Oposição “quem faz o jogo do patrão”. Basta eles nos explicarem como os trabalhadores tomariam conhecimento da proposta do patrão e de como deveriam se posicionar. Seria por osmose ou telepatia?
Estes sindicalistas são homens de rotina, corroídos por um legalismo apodrecido, corrompidos pela atmosfera do parlamentarismo burguês e petista, em especial. São funcionários habituados às benesses materiais e a um trabalho “repousante”. Refletem a política reformista que defendem, isto é, a política do PT e da CUT, que hoje são os melhores representantes e serviçais da burguesia. Por isso é preciso romper com a CUT e construir a Conlutas. Mas antes de tudo, é preciso romper com este sindicalismo apenas econômico e lutar por um novo sindicalismo, revolucionário e socialista.
Escravidão natalina
Poucas semanas antes das festas de final de ano a empresa preparou uma nova armadilha para os trabalhadores. Comunicou que se não atingirmos a meta não teremos direito a folga no feriado. Na mesma lógica que o reajuste salarial, a empresa negocia um direito. O capitalismo em decadência obriga os trabalhadores empregados a trabalharem sábado e também aos feriados, enquanto que deixa a margem milhões de desempregados. Como ficou demonstrado pela questão do reajuste e agora pela questão da escravidão natalina, ele não representa futuro algum para a humanidade, por isso precisa ser derrubado pelas organizações da classe trabalhadora.
Para atingir estes fins, é preciso se organizar na Oposição para lutar contra os reajustes miseráveis, contra a escravidão natalina e contra o capitalismo.