1) Sobre a negociação do PLR: os sindicatos atuais estão ligados diretamente ao Estado e, por conseqüência, ao patrão. A negociação do PLR comprova o quanto isso é verdadeiro. A direção do nosso sindicato servirá de exemplo para demonstrar como funciona o sindicalismo conciliador que impera na maioria dos sindicatos. As negociações entre a patronal e os sindicatos é realizada anteriormente a qualquer discussão com os trabalhadores. Não há assembléia de base para analisar os resultados das empresas, nem contra proposta para ser levada à mesa de negociação. Muito pelo contrário. A patronal sente-se livre para propor o índice que melhor lhe convier. As propostas sempre beneficiam a empresa, que propõem reajustes abaixo da inflação.
Depois desta negociação de fachada, a direção do sindicato chama uma assembléia para referendar uma decisão já tomada nos bastidores. Convoca a assembléia, geralmente, em cima da data, apresentando números confusos, abstratos, que o trabalhador não compreende. Aí fica fácil passar com tranqüilidade a proposta do patrão. Depois de aprovado a esmola, o sentimento de indignação não encontra o alvo certo. A empresa e o sindicato aparecem como “anjinhos”, que “fizeram sua parte”: uma apresentando a proposta e o outro por consultar os trabalhadores. Os trabalhadores mais combativos que comparecem a assembléia acham que os colegas são os culpados. Daí vem as expressões: “ninguém participa”, “ninguém vai parar”, “ninguém quer fazer nada”. Ainda que seja importantíssima a ampla participação, os principais responsáveis pela desorientação e pela derrota dos trabalhadores é a direção do sindicato. É ela que negocia pelas costas; é ela que não mobiliza os trabalhadores; é ela que não esclarece os trabalhadores das reais intenções da empresa. Isso tem uma explicação: a direção do sindicato quer manter seus privilégios sindicais (aparato sindical: carros, computadores, telefones, contribuição sindical, etc.) que deveriam ser utilizados para a luta e organização dos trabalhadores, e não os utiliza para se enfrentar com a patronal; é isso o que explica a sua aversão a qualquer tipo de mobilização da base. O resultado é sempre a nossa derrota.
2) Sobre o voto de cabresto: aliada da direção do sindicato e em perfeita sintonia com ela, está a diretoria da empresa. Na assembléia do dia 27 de abril ficou visível para quem quiser ver. Os dirigentes sindicais recebiam ligações da empresa avisando que um grupo de operadores havia sido dispensado para a assembléia. Assim se sucedeu diversas vezes. Estes trabalhadores “liberados” pela empresa para participar da assembléia eram aqueles que iam tutorados pelos supervisores e gestores para votar na proposta da empresa. Isto é o que chamamos de “voto de cabresto”. A empresa só libera aqueles que geralmente são “controlados” pela empresa. Antes, durante e depois recebem inúmeros feedbacks que servem para preparar ideologicamente estes trabalhadores para votar no “sim”. A mentira, a persuasão, a promessa de um PLR “inesquecível e bom” correm soltos. Os mais desavisados acreditam.
Durante a assembléia a direção do sindicato faz um teatro: “aqui são os trabalhadores que decidem”. Por trás desta frase “democrática” está o apoio velado à proposta da empresa. A direção do sindicato sabe que os participantes da assembléia são trabalhadores levados pela empresa e selecionados conforme o método do “voto de cabresto”. Por sua vez, os dirigentes do sindicato não fizeram o mínimo de esforço para levar um trabalhador “independente” para a assembléia. Portanto, ao saber que os trabalhadores presentes – sobretudo os operadores da Vivo – estão ideologicamente doutrinados para votar no sim, sua suposta “neutralidade” se converte na mais pura e deslavada traição aos interesses dos trabalhadores.
3) Sobre a participação na assembléia: a maior parte dos presentes foi “liberado” pela empresa. Na manhã foi um pequeno contingente. Mas na iminência de perder a votação (visto que o resultado da manhã foi de 28 pelo “sim” e 21 pelo “não”) a empresa liberou seus setores mais bem pagos, que teriam um PLR bem diferente dos operadores mais precarizados. São eles, em primeiríssimo lugar, os supervisores em todas as gradações (gestores, multiplicadores, etc.), que teriam um PLR de R$1.000 ou mais, bem diferente dos R$130,00 dos demais operadores. Daí vem a explicação do entusiasmo dos supervisores em nos fazer aceitar uma esmola. Em segundo lugar vem a diferença salarial entre os setores da empresa, o que serve, na prática, para jogar trabalhador contra trabalhador. O fato de uma operação ter um salário maior faz com que ela receba proporcionalmente um PLR maior (é isso o que explica a opção da empresa em liberar a operação da Vivo, que recebe um salário maior que a operação do Terra, que é a maioria). Em terceiro lugar se destaca o método da participação na assembléia que deveria ser somente de trabalhadores. A direção do sindicato reconhece como “trabalhador” os supervisores, multiplicadores e gestores. Estes setores não atendem cotidianamente, recebem melhores salários, tem a função de capatazes da empresa. Por sua função se afastam da nossa classe e se aproximam da patronal. Nós, da Oposição, denunciamos este método de organizar a assembléia e conclamamos a todos os trabalhadores que não aceitem mais a participação daqueles que tem como função nos oprimir e garantir o lucro do patrão.
4) Conclusões deste breve balanço: alertamos a todos os trabalhadores, através deste balanço, para que não se curvem perante as dificuldades. Levantem a cabeça, deixem de crer na força de nosso opressor. Nós somos maioria. Uma participação organizada e massiva poderia garantir a derrota da esmola da empresa, da própria empresa e da direção do sindicato. Seríamos muito mais poderosos do que todo o exército de supervisores e dos operadores “persuadidos” que preferem aceitar as migalhas imediatas. Esta é a principal lição da assembléia. Para as próximas assembléias e atividades devemos nos organizar para participar massivamente. Fiquem ligados na convocação da Oposição pelo blog, e-mail e panfletos.
Por fim, reforçamos a denúncia da direção do sindicato, que é a “grande organizadora de derrotas”. Enquanto esta direção ocupar o posto dirigente no nosso sindicato, será difícil lutar de forma conseqüente contra o patrão. Esta experiência nos comprova o seu papel lamentável. Estamos certo de que, apesar dos pesares, os operadores já começam a tomar consciência do seu verdadeiro papel.