terça-feira, 14 de julho de 2009

Atento do Brasil comemora 10 anos de exploração de mão de obra barata e de lucros recordes

Em 2009 a multinacional Atento completa aniversário de 10 anos de atuação no Brasil. No seu jornal interno (Sintonia, edição especial, Nº59 – que muito bem poderia chamar-se dissintonia, dado o grau de desinformação e embelezamento das posições da empresa) encontramos matérias “comemorativas”, que se caracterizam por belas frases, bem floreadas, capazes de esconder e dissimular toda espécie de misérias a qual estão sujeitos os operadores. Nesta edição de “Sintonia”, ao invés de comemorar, apenas podemos constatar que a empresa gasta bastante dinheiro em marketing e propaganda enganosa interna.

O mais importante é “você” ou o lucro dos acionistas?
Logo na capa, encontramos o slogan: o mais importante é você, mas que serve perfeitamente para bajular e enganar os operadores mais desavisados. Os operadores somente são “importantes” na medida em que garantem a produtividade da empresa; principalmente sem reclamar e sem apresentar resistência à exploração desenfreada, ao assédio moral, etc. Quando isso ocorre, o “mais importante” é garantido: ou seja, o lucro dos acionistas da Atento. Estas frases vazias servem apenas para consumo de propaganda interna, para consolar os operadores que são submetidos diariamente a uma estafante jornada de trabalho, a um salário miserável, a falta de tempo para os filhos, para a família, para o lazer. Podemos concluir, sem sombra de dúvidas, de que esta frase – “o mais importante é você” – não passa de demagogia barata para encobrir a verdadeira exploração capitalista.

A farsa da “glória” do 1º emprego e da oportunidade de crescimento
Outra falácia do jornal é a oportunidade do 1º emprego e do crescimento dentro da empresa. O setor de call centers é, atualmente, o que mais cresce no Brasil. Isso não ocorre por acaso. A exigência de que as empresas tenham atendimento ao consumidor, somado ao baixo custo de formação e manutenção (salário) de “mão de obra”, impulsionam estas empresas a contratação de novos trabalhadores. Desde jovens que conseguem o seu primeiro emprego, até senhores de idade, que pela falta de oportunidades na sociedade capitalista e o medo de morrer no desemprego, acabam sendo obrigados a trabalhar nesta categoria.

Dentro deste cenário, a oportunidade do 1º emprego não é motivo de comemoração. Muito pelo contrário, só demonstra o grau de decomposição e decadência da sociedade capitalista. Sociedade esta, diga-se de passagem, que a direção da empresa defende e impulsiona disfarçadamente pelo seu jornal infame.

Não ficando atrás na enrolação, a propaganda do crescimento dentro da empresa através do projeto “escalada” é caracterizada pela “panelinha” da seleção. Somente se torna supervisor e/ou multiplicador (ou qualquer outro cargo acima de teleoperador) aquele funcionário que é aceito nos círculos e extratos superiores. Esta “seleção” se faz pelos serviços prestados a empresa: boa conduta, pouca ou nenhuma reclamação, boa produtividade, nenhuma falta, etc. Para manter um esquema tão ditatorial de produção, exigido pelo capitalismo, a empresa não poderia permitir outro tipo de seleção. Frente a isso, o que os trabalhadores conscientes não podem permitir é uma propaganda enganosa, que vende a idéia de “democracia” na seleção e no cotidiano da empresa, quando a realidade é exatamente o oposto.

Na Atento a saúde do trabalhador tem preço! E é bem cara!
Não poderíamos deixar de abordar um tema que causa tanta indignação nos trabalhadores e que no referido jornal “Sintonia” é abordado de uma forma tão cínica e mentirosa. A mentira começa pelo título da matéria: “Sua saúde não tem preço”; e é complementada pela hipocrisia do conteúdo: “Para a Atento, a saúde do funcionário é coisa séria”. Se a saúde do funcionário “não tivesse preço” e “fosse coisa séria” a empresa não descontaria do salário as consultas do plano de saúde, ou seja, não passaria os custos do plano de saúde para as costas do trabalhador, na medida em que tem lucros recordes e paga um salário miserável aos seus operadores. Da mesma forma, a empresa não descontaria a comissão do salário para as faltas justificadas por atestado médico e nem descontaria do salário para as faltas injustificadas. Se a saúde do trabalhador “fosse coisa séria”, a Atento não teria um setor especializado (no caso o SESMT) em ligar para os hospitais para averiguar os atestados.

É por essas e por outras que os trabalhadores conscientes devem repudiar este cinismo da Atento de se postar como uma santificada empresa, que pretensamente pensa mais nos operadores do que no seu lucro. Nestes 10 anos não faltam exemplos de que a empresa não se preocupa nenhum pouco com a saúde dos seus trabalhadores. Definitivamente, os operadores da Atento não tem o que comemorar.

Operadores de todos os países, uni-vos!
É claro que esta mentira institucionalizada do jornal “Sintonia” tem o apoio velado da direção dos Sintteis, já que estes não fazem nenhuma crítica a esta hipocrisia generalizada. Muito pelo contrário! Ao invés dos Sintteis criticarem a Atento, é a Atento que elogia as iniciativas dos sindicatos. Isso fica expresso no mesmo jornal, onde lemos: “... o projeto Prejal traz uma ótima oportunidade de formação. É um programa de capacitação em telesserviços, que existe desde 2007 e que é realizado por meio da parceria entre Atento Brasil, Telefônica, Sindicato de Trabalhadores em Telecomunicações e Instituto Apse”. Esta citação dos sintteis não é uma casualidade. É um reconhecimento pelos excelentes serviços prestados.
Falta uma direção que organize a luta dos trabalhadores contra a exploração do capital multinacional; no nosso caso, representado pela Atento. A nossa luta não pode permanecer no âmbito regional e nacional. Não se trata apenas da exploração da Atento Brasil, mas de todo o grupo Atento e de todas multinacionais de call centers ao redor do mundo. Quando confrontada por uma greve numa região ou país, uma multinacional pode se apoiar em outra unidade contra a mobilização dos trabalhadores. A Atento opera e explora mão de obra em 17 países, sendo o Brasil o “maior e mais rentável” (segundo expressão do próprio jornal), representando 46% da fatia do bolo mundial.

É preciso construir um movimento contra a exploração, por melhores salários, contra o assédio moral, etc., tanto a nível nacional quanto internacional. Para isso não podemos contar com a direção dos Sintteis e nem da Fittel, todas ligadas a CUT. Estas direções têm o rabo preso com o governo e não se preocupam em articular um movimento independente da burguesia. Precisamos organizar fortes e sólidas oposições sindicais para derrubar essas direções e retomar os sindicatos das mãos destas burocracias.

Compreendemos que os trabalhadores só terão o que comemorar quando a Atento estiver sob controle dos operadores, onde estes poderão decidir democraticamente as metas, o método de organização do trabalho, onde elegerão e destituirão, sempre que for necessário, a supervisão, e que impulsionarão uma luta pelo socialismo junto aos demais trabalhadores: única forma de acabar com as desigualdades e aberrações da sociedade capitalista. Chamamos a unidade dos operadores da Atento em todo mundo, para elevar ao ponto mais alto este programa e para que no próximo decênio possamos celebrá-lo como realidade.

Um comentário:

Anônimo disse...

"...trabalhadores só terão o que comemorar quando a Atento estiver sob controle dos operadores, onde estes poderão decidir democraticamente as metas, o método de organização do trabalho, onde elegerão e destituirão, sempre que for necessário, a supervisão, e que impulsionarão uma luta pelo socialismo junto aos demais trabalhadores: única forma de acabar com as desigualdades e aberrações da sociedade capitalista." PURA UTOPIA!
Mas gostei do texto!